terça-feira, junho 26, 2007

A REALIDADE EXISTE?

Pense por um instante. Você existe? Você está de fato lendo este texto? As pessoas que estão à sua volta são reais? A resposta a essas perguntas parece óbvia. Sim, eu existo, estou lendo este texto e as pessoas à minha volta são reais, diria a maioria das pessoas. Mas qual a prova disso? Aparentemente, a melhor prova de que o mundo à nossa volta existe são os nossos sentidos. Nós vemos o mundo, o cheiramos, ouvimos e apalpamos. Mas os nossos sentidos não são nada confiáveis. As chamadas miragens são um ótimo exemplo disso. Ou os sonhos que parecem reais. Filmes como Matrix e Vanila Ski mostram como podemos ser enganados por nossos sentidos. Neo de Matrix achava que tudo à sua volta era real, quando na verdade estava imerso em uma realidade virtual criada por um programa de computador.
Há uma parábola chinesa que mostra bem o quanto os sentidos podem ser enganadores. Dizem que um sábio estava andando por um campo quando teve sono e dormiu à sombra de uma árvore. Sonhou que era uma borboleta e, no seu novo corpo, voou pelos campos, pousou nas flores, sentiu o calor do sol... quando acordou uma dúvida se apossou dele: era ele um sábio que sonhara ser uma borboleta, ou uma borboleta sonhando que era um sábio?
No Ocidente, um dos primeiros pensadores a criticarem os sentidos como fonte de conhecimentos foi René Descartes. Ele percebeu que os sentidos não eram confiáveis e propôs a razão como única fonte de certeza. Cogito ergo sun. Penso, logo existo.
Os cientistas responderam aos questionamentos de Descartes elaborando mais e melhores instrumentos de observação. Se os nossos sentidos não conseguem perceber com perfeição o tempo, use-se relógios. Se não conseguimos dizer com que exatidão que objeto é maior que outro, crie-se balanças. Assim foram criados telescópios, microscópios, balanças, cronômetros e muitos outros instrumentos que tornavam mais confiável as pesquisas (nas ciências sociais foram criados instrumentos específicos, como os questionários).
O filósofo Leibniz percebeu a falácia dessa empreitada. Afinal, por mais sofisticados que sejam instrumentos de pesquisa, eles serão, em última instância, captados por nossos sentidos. O microscópio pode ser avançadíssimo, mas no final o que será observado o será através do olho humano, que é falho. Ou seja, as extensões dos nossos sentidos são, no fim, tão falhas quantos os sentidos.
O cientista chileno Humberto Maturana deu um vernis mais científico à crítica de Leibniz. Maturana é originalmente biólogo e estava interessado no sistema nervoso e nos fenômenos da percepção. Em sua pesquisa ele se deparou com as experiências com o olho da salamandra.
As salamandras têm incrível poder de regeneração. Assim, se cortamos sua pata, ela se regenera. O mesmo acontece com o nervo óptico. Se um cientista corta o nervo óptico da salamandra, o retira da cavidade e coloca de volta, o olho se regenera. Mas alguns cientista havia cortado o olho, girado-o 180 graus e colocado de volta. Ao fazer isso, a salamandra, que lança sua língua para pegar insetos, passou a lançar sua língua na direção oposto ao bichinho.
No livro Cognição, ciência e vida cotidiana, Maturana explica o processo: “Ao girar o olho 180 graus, a retina posterior fica na frente, no lugar da anterior e vice-versa; e a retina superior fica embaixo, no lugar da inferior, que vai para cima. Normalmente, se pomos um bichinho na frente da salamandra, sua imagem se forma na retina posterior, a salamandra lança sua língua para a frente e o captura. Quando giramos o olho, a imagem do bichinho colocado à frente da salamandra se forma na retina anterior, que agora está atrás”.
A conclusão à que o biólogo chegou foi de que o ato de lançar a língua e capturar o bichinho não é um ato de apontar para um objeto externo, mas de fazer uma correlação interna.
Assim, Maturama duvida inclusive que exista uma realidade externa. Tudo que vemos e observamos é resultado de uma correlação interna.
Talvez haja de fato uma realidade externa, talvez o computador no qual escrevo agora exista de fato em uma realidade exterior a mim, mas devo me conformar com o fato de que nunca terei acesso direto a essa realidade e, portanto, nunca poderei saber se o que vejo é exatamente o que existe fora de minha percepção sensorial.

2 comentários:

Anónimo disse...

cara isso foi sei la sinistro! falo tudo o.isso ai t+

Anny disse...

Muito bom. Vou indicar...