domingo, março 22, 2009

Edgar Morin e o pensamento complexo - parte 1

Um dos pensadores mais importantes da atualidade é o francês Edgar Morin. Suas idéias, inicialmente criadas para discutir a questão do conhecimento, espalharam-se por várias áreas e tornaram-se uma referência obrigatória na área de educação a partir do livro Os sete saberes necessários à educação do futuro, escrito a pedido da Unesco.
Essencialmente, a teoria de Morin baseia-se na critica ao que ele considera os três pilares da ciência moderna: a ordem, a separabilidade e as lógicas indutivas e dedutiva.
A busca da ordem sempre foi o interesse principal da ciência. Quando desconhecemos como algo funciona, aquilo é caótico para nós. Quando aprendemos sobre aquilo, a ordem se revela aos nossos olhos.
Há várias formas de definir ordem. A teoria da informação nos ensina que ordem é falta de varidade/informação. Já caos é variedade/informação em estado puro. Um relógio é um exemplo perfeito de ordem. Ele sempre fará as mesmas coisas, sempre se movimentará de maneira uniforme a totalmente previsível. Já a bolsa de valores é um fenômeno mais caótico, pois é muito mais difícil prever seus movimentos.
Uma outra maneira de definir ordem, complementar à anterior, é através da determinação. Fenômenos ordenados são determinados. Determinação sugere uma relação causal. Se determinado fenômeno ocorre, ele terá obrigatoriamente uma conseqüência.
Para Isaac Newton, Deus criou, no princípio, as partículas materiais, as forças entre elas e as leis fundamentais do movimento. Todo o universo foi posto em movimento desse modo e continuou funcionando, desde então, como uma máquina, governada por leis imutáveis.
A relação de causa e consequência é extremamente determinada na ciência clássica. Se solto uma pedra, essa obrigatoriamente irá cair, pois a lei da gravidade a força a isso.
A crença na determinação fez com que os cientistas e filósofos sonhassem com a possibilidade de decifrar a verdade definitiva. Essa ambição encontrou uma metáfora no demônio de Laplace. Laplace imaginou que, se uma inteligente tivesse todas as informações sobre todos os átomos do universo e fosse poderosa o bastante para calcular as relações de causa e conseqüência, o presente, o passado e o futuro se descortinariam diante de seus olhos.
A ciência clássica ignorava os fenômenos dinâmicos, que estão mais próximos do caos que da ordem. A bolsa de valores, o trânsito de cidade, as sociedades e até a vida humana são fenômenos que escapam ao determinismo.
Nas ciências humanas, até há pouco tempo, predominava um determinismo biológico ou social. Os adeptos do determinismo biológico chegaram ao seu extremo na eugenia. Para essa corrente de pensamento, os comportamentos são governados por traços genéticos. Assim, o filho de um sábio será também ele um sábio e o filho de um assassino será, também ele, um assassino. A eugenia defendia que apenas pessoas viáveis do ponto de vista social e biológico pudesse procriar e essa foi a base teórica para o nazismo.
No outro extremo, havia aqueles que diziam que o homem é fruto do meio. Uma pessoa criada em um meio intelectualizado se tornará um intelectual, independente de qualquer fator genético. Já uma pessoa criada em uma ambiente desfavorável intelectualmente não desenvolverá suas potencialidades.
O determinismo, tanto genético quanto social, se revelou falho. O atual presidente do Brasil é talvez o melhor exemplo do quanto é falho o determismo social. Quem poderia imaginar que um menino que saiu do sertão nordestino fugindo da seca um dia ia se tornar presidente do maior país da América Latina?
Edgar Morin diz que a complexidade nos dá a liberdade, pois nos livra do determinismo. Somos nós que construímos nosso próprio destino a partir de nossas escolhas, sejam elas conscientes ou não.
Como o Neo de Matrix, que deve decidir se toma ou não a pílula, constantemente nos vemos em encruzilhadas, em bifurcações. O que será de nosso destino será resultado direto do caminho que tomarmos.
Nada melhor do que uma frase do próprio Edgar Morin para demonstrar isso: “Quando penso na minha vida, vejo que sou fruto de um encontro muito improvável entre meus progenitores. Vejo que sou produto de um espermatozóide salvo entre cento e oitenta milhões que, não sei por sorte ou infortúnio, se introduziu no óvulo de minha mãe. Soube que fui vítima de manobras abortivas, que deram resultado com meu predecessor, mas ninguém saberá dizer porque escapei à arrastadeira. E cada vida é tecida dessa forma, sempre com um fio de acaso misturado com o fio da necessidade. Sendo assim, não são fórmulas matemáticas que vão dizer-nos o que é uma vida humana, não são aspectos exteriores sociológicos que a vão encerrar no seu determinismo
.”.

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