quarta-feira, fevereiro 17, 2010

História dos quadrinhos

Crise nas infinitas terras

No início da década de 1980, a cronologia da editora DC Comics era uma bagunça. O problema todo havia começado em 1961, quando Gardner Fox, responsável pela criação de Joel Ciclone e de sua versão da era de Prata, o Flash, resolveu fazer um encontro entre os dois personagens. A história “Flash de dois mundos” marcou a DC ao apresentar uma explicação que na época era muito boa: o personagem clássico e o personagem moderno faziam parte de dimensões diferentes.
Posteriormente, a DC Comics (que na época se chamava National) começou a comprar personagens de outras editoras e, para acomodá-los, inventou novas Terras alternativas.
Os escritores começaram a juntar personagens de terras diferentes e a criar cada vez mais terras. Chegou num ponto que ficou difícil tanto ler as histórias quanto escrevê-las, pois ninguém conseguia entender direito como funcionava aquele universo com infinitas Terras alternativas.

Nessa época, o escritor Marv Wolfman, que vinha fazendo muito sucesso com os Novos Titãs, leu uma carta na seção de correspondência da revista do Lanterna Verde na qual um leitor reclamava: “Vocês deviam ajeitar a continuidade da DC” e teve a ideia de fazer uma grande história, em homenagem aos 50 anos da editora, que juntasse vários personagens e, ao mesmo tempo, desse uma arrumada na casa.
O personagem chave seria um vilão não aproveitado dos Novos Titãs, chamado Monitor, cuja função seria conseguir informações sobre os heróis para vendê-las aos inimigos. O Monitor foi transformado em herói, mas ganhou uma contrapartida negra: o Antimonitor, cujo objetivo seria destruir os universos paralelos. Ao final da Crise nas Infinitas Terras, sobrou uma única realidade e os personagens que não morreram durante a história foram acomodados nela.
A diretoria da DC Comics adorou a ideia de um grande crossover entre os personagens da editora e deu carta branca para Wolfman. Inclusive, escalou para a empreitada George Pérez. Os dois eram a escolha óbvia para o projeto, pois Wolfman sabia trabalhar muito bem com histórias que envolvessem muitos personagens e Pérez adorava desenhar muitos heróis em um único quadro. Em Crise, ele teria a chance de desenhar todos os personagens da editora, nem que fosse em uma única sequência.
Com a Crise, a DC mostrava que não era uma editora que vivia só de nostalgia, mas, ao contrário, consolidava a posição de inovadora. Afinal, além de mexer com toda o universo DC, Wolfman matou dois personagens queridos dos fãs: Flash e a Supermoça. E os personagens mais famosos, como Batman, Super-homem e Mulher Maravilha, foram reformulados.
O Super-homem ganhou uma nova versão, com traços e roteiros de John Byrne, que vinha do sucesso dos X-men. Batman foi reformulado por Frank Miller em Ano Um e a Mulher Maravilha ganhou uma nova versão, muito mais mitológica, com traço e roteiro de George Pérez.
Crise nas Infinitas Terras deixou três legados. O primeiro foi quanto à cronologia, um legado que com o tempo foi desaparecendo à medida em que novos roteiristas inventavam novas terras paralelas. O segundo legado foi quanto à obra em si, pois Crise foi uma ótima história em quadrinhos, com bom roteiro e bom desenho. O terceiro legado foi o negativo: a partir do sucesso de Crise, tanto a Marvel quanto a DC se viram tentadas a fazer mega-crossovers juntando todos os seus personagens sempre que as vendas iam mal. A maioria com qualidade muito inferior ao trabalho de Wolfman e Pérez. Como essas mega-sagas ocupavam todas as revistas da editora por um período, isso afastou novos leitores, que logo desistiram de comprar todos gibis de um mês para entender um único número.
Nunca uma história foi tão importante, tanto para o bem quanto para o mal.

2 comentários:

TSalvatore disse...

Muito bom o texto, Parabéns! Acredito que o principal problema foi causado pelos roteiristas posteriores, que cresceram lendo as "multiplas Terras" e acabaram retornando com essas ideias confusas para a cronologia atual. Para mim, só os japoneses é que sabem lidar com cronologias... Abs!

Anónimo disse...

discordo que todos os crossovers posteriores foram ruins LJA/Vingadores é bom, é quase uma sequencia de Crise (e muito melhor que Crise Infinita ou Crise Final).