quarta-feira, outubro 18, 2017

X-men: first class

Não há dúvidas: X-men first class é um dos melhores filmes de super-heróis de todos os tempos. Está na mesma categoria do Superman do Richard Donner e do Homem-aranha 2.
O curioso de tudo é que, antes de estrear, todos apostavam que seria mais uma bomba. Os primeiros cartazes eram estranhos, o orçamento parecia baixo demais para um filme de super-heróis (80 milhões - uma ninharia comparado com Thor, por exemplo). Muita gente dizia que só valeria a pena pela oportunidade de ver a Rainha Branca de lingiere... 
Mas a falta de dinheiro parece ter trabalhado a favor do filme: a pirotecnia de efeitos especiais e ação contínua foram substituídos por uma ótima história, um grande roteiro e um aprofundamento de personagens poucas vezes visto nos outros X-men.
A relação Xavier - Magneto, por exemplo, só é de fato compreendida nesse filme. Nos outros ela fica implícita, mas jamais é explorada de fato. A relação de amizade e inimizade cria alguns dos melhores momentos do filme.
A falta de dinheiro também contribuiu em outro ponto: sem dinheiro para usar e abusar de efeitos, o diretor deixou-os para o final. Quando finalmente vemos Magneto levantando um submarino, ficamos espantados com isso. O  impacto desse tipo de efeito se perde nos filmes de grande orçamento justamente pelo excesso.
O filme também acerta em situar a história nos anos 1960, dando um tom histórico de realismo (especialmente pelo contexto da crise dos mísseis em Cuba). Até mesmo do ponto de vista comportamental: quando os mutantes jovens se divertem dançando rock  é inevitável se lembrar da juventude dos anos 1960.
O diretor Matthew Vaughn , o mesmo de Kick Ass, lembrou de algo essencial no gênero super-heróis: todo gibi é uma diversão juvenil e isso se reflete no filme. A sequência em que os mutantes aprendem a lidar com seus poderes é memorável e divertida e prende os telespectadores na cadeira mesmo sem gastar muito com efeitos especiais.
Outro aspecto importante é a forma como o filme consegue costurar vários elementos que depois apareceriam na trilogia X-men, inclusive a forma como Xavier ficou paralítico, o capacete de Magneto, a aparência do Fera, etc.
Pessoalmente, gostei de ver a personagem Moira com um pouco mais de destaque (minha filha adorou).

Finalmente, é possível fazer uma relação interessante do antagonismo entre Xavier e Magneto e os teóricos da comunicação que Umberto Eco chamou de apocalípticos e integrados. Criado numa família rica, nos prósperos EUA, Xavier é um otimista e acredita que a relação entre humanos e mutantes é possível. Vítima de nazistas, Magneto resume sua filosofia na frase: "A paz nunca foi uma opção". Lembra a frase de Adorno: "Não é possível fazer poesia depois de Auschwitz".
A amargura de Magneto reflete a angústia da escola de Frankfurt, enquanto que a visão até certo ponto ingênua, mas bem intencionada do professor X lembra os funcionalistas norte-americanos. Não é uma relação descabida (embora Adorno não fosse gostar de se ver retratado em um filme hollywoodiano): para além da diversão, humor, drama e ação, X-men first class realmente deixa aberto um rico caminho para reflexões dos mais variados tipos. 
Um filme para assistir e assistir de novo.

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